PAPA: Francisco cumpre dez anos de pontificado dia 13 de março

O Papa Francisco cumpre dez anos de pontificado no dia 13 de março.

Comprometa-se a rezar uma avé-maria pelo Papa no dia 13. Se quiser, pode inscrever-se em https://www.decimus-annus.org/pt/site/index

Francisco sucedeu a Bento XVI, o primeiro Papa que renunciou ao pontificado, em quase 600 anos. É o primeiro pontífice não europeu em quase 1.300 anos. Já passou por 60 países. Atualmente, há 1.300 milhões de fiéis católicos em todo o mundo, mais 100 milhões do que em março de 2013. A popularidade de Francisco é notória também nas redes sociais. Só no Twitter, a conta oficial do Papa argentino tem quase 54 milhões de seguidores.

(publicamos entrevista de L’Osservatore Romano)

Casa de Santa Marta, a residência onde Francisco habita. As portas abrem-se para a radiotelevisão suíça de língua italiana, para uma entrevista com o papa, de que publicamos seguidamente alguns excertos, dedicada aos dez anos de pontificado.

Francisco não pensa em demissão, mas explica o que eventualmente o levaria a determiná-la: «Um cansaço que não te faz ver claramente as coisas. A falta de clareza, de saber avaliar as situações».

Há dez anos que deixou de viver em Buenos Aires. Desse tempo sente falta de «caminhar, andar pela rua». Mas está bem em Roma, «uma cidade única», ainda que não faltem preocupações.

Estamos «numa guerra mundial», diz. «Começou em fragmentos e agora ninguém pode dizer que não é mundial. Porque as grandes potências estão todas enredadas. E o campo de batalha é a Ucrânia. Ali lutam todos». O papa revela que Putin sabe que ele quer encontrar-se com ele, «mas ali estão todos os interesses imperiais, não só do império russo, mas dos impérios de outras partes».

Santo Padre, nestes dez anos o que mudou?
Sou velho. Tenho menos resistência física, o que aconteceu com o joelho foi uma humilhação física, mesmo que agora esteja a curar-se bem.

Foi-lhe pesado andar em cadeira de rodas?
Envergonhava-me um pouco.

Muitos descrevem-no como o papa dos últimos? Sente-se como tal?
É verdade que tenho uma preferência pelos descartados, mas isto não quer dizer que eu descarte os outros. Os pobres são os prediletos de Jesus. Mas Jesus não expulsa os ricos.

Jesus pede para levar qualquer um à sua mesa. Que significa isto?
Significa que ninguém é excluído. Quando não foram à festa, disse para se ir às encruzilhadas das estradas e chamar todos, doentes, bons e mais, pequenos e grandes, ricos e pobres, todos. Não devemos esquecer isto: a Igreja não é uma casa para alguns, não é seletiva. O santo povo fiel de Deus é este: todos.

Porque é que algumas pessoas, por causa da sua condição de vida, se sentem excluídas da Igreja?
Há sempre pecado. Há homens de Igreja, mulheres de Igreja que fazem a distância. E isto é um pouco a vanidade do mundo, sentir-se mais justo do que os outros, mas não é justo. Todos somos pecadores. Na hora da verdade colocas sobre a mesa a tua verdade e verás que és pecador.

Como se imagina a hora de verdade, a vida depois da morte?
Não posso imaginá-lo. Não sei o que será? Apenas peço a Nossa Senhora que esteja ao meu lado.

Porque escolheu morar em Santa Marta?
Dois dias após a eleição fui tomar posse do palácio apostólico. Não é muito luxuoso. É bem feito, mas é enorme. A sensação que tive era como a de um funil ao contrário. Psicologicamente não o tolero. Por acaso passei diante do quarto onde moro. E disse: «Fico aqui». É uma pousada, nela habitam quarenta pessoas que trabalham na cúria. E vem gente de todos os lados.

Da sua vida anterior falta-lhe alguma coisa?
Caminhar, andar pela rua. Caminhava muito. Usava o metro, o autocarro, sempre com as pessoas.

O que pensa da Europa?
Neste momento há muitos políticos, chefes de governo ou ministros jovens. Digo-lhes sempre: falai entre vós. Aquele é de esquerda, tu és de direita, mas ambos são jovens, falai. É o momento do diálogo entre os jovens.

O que traz um papa quase do fim do mundo
Vem à minha mente uma coisa que a filósofa argentina Amelia Podetti escreveu: a realidade vê-se melhor dos extremos do que do centro. A partir da distância compreende-se a universalidade. É um princípio social, filosófico e político.

O que recorda dos meses de confinamento, a sua oração solitária na praça de S. Pedro?
Chovia e não havia ninguém. Senti que o Senhor estava ali. Foi uma coisa que o Senhor quis para fazer-nos compreender a tragédia, a solidão, a escuridão, a peste.

No mundo há várias guerras. Porque se esforça em compreender-lhes o drama?
Em pouco mais de cem anos houve três guerras mundiais: 1914-18, 1939-45 e esta que é uma guerra mundial. Começou em fragmentos e agora ninguém pode dizer que não é mundial. As grandes potências estão todas enredadas. O campo de batalha é a Ucrânia. Ali lutam todos. Isto faz pensar na indústria das armas. Dizia-me um técnico: se durante um ano não se produzissem armas, resolver-se-ia o problema da fome no mundo. É um mercado. Faz-se a guerra, vendem-se as armas velhas, experimentam-se as novas.

Antes do conflito na Ucrânia encontrou-se várias vezes com Putin. Se o encontrasse hoje o que lhe diria?
Falar-lhe-ia claramente como falo em público. É um homem culto. No segundo dia da guerra estive na embaixada da Rússia junto da Santa Sé para dizer que estava disposto a ir a Moscovo, na condição que Putin me abrisse uma janelinha para negociar. Escreveu-me Lavrov [ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia] a dizer obrigado, mas não é o momento. Putin sabe que estou à disposição. Mas ali há interesses imperiais, não só do império russo, mas dos impérios de outras partes. O que é próprio do império é colocar em segundo lugar as nações.

Que outras guerras sente com maior proximidade?
O conflito do Iémen, a Síria, os pobres rohingya de Myanmar. Porquê estes sofrimentos? As guerras fazem mal. Não há o Espírito de Deus. Não acredito nas guerras santas.

Muitas vezes fala de murmuração. Porquê?
A murmuração destrói a convivência, a família. É uma doença oculta. É a peste.

Como foram os dez anos de Bento XVI no mosteiro Mater Ecclesiae?
Corajosos, é um homem de Deus, quero-lhe muito bem. A última vez que o vi foi pelo Natal. Quase não podia falar. Falava baixo, baixo, baixo. Era preciso que traduzissem as suas palavras. Estava lúcido. Fazia perguntas: como está isto? E aquele problema? Estava atualizado sobre tudo. Era um prazer falar com ele. Pedia-lhe opiniões. Ele dava sempre o seu parecer, mas sempre equilibrado, positivo, um sábio. Na última vez, porém, via-se que estava no fim.

As exéquias fúnebres foram sóbrias. Porquê?
Os cerimoniários ficaram com a “cabeça em água” para fazer as exéquias de um papa não reinante. Era difícil fazer a diferença. Agora disse para que se estude a cerimónia para os funerais dos papas futuros, de todos os papas. Estão a estudar e também a simplificar um pouco as coisas, eliminar as coisas que liturgicamente não estão bem.

O papa Bento abriu o caminho às demissões. O senhor disse que é uma possibilidade, mas que de momento não a contempla. O que poderia levá-lo no futuro a demitir-se?
Um cansaço que não te faz ver claramente as coisas. A falta de clareza, de saber avaliar as situações. Também pode acontecer o problema físico. Sobre isto pergunto sempre e sigo os conselhos. Como estão as coisas? Parece-te que devo… às pessoas que me conhecem, também a alguns cardeais inteligentes. E dizem-me a verdade: continua, estás bem. Mas por favor: gritem a tempo.

Quando saúda, pede a todos para rezarem por si. Porquê?
Estou seguro de que todos rezam. Aos não crentes digo: rezai por mim, e se não rezardes mandai-me boas ondas. Um ateu amigo escreveu-me: … e mando-te boas ondas. É uma maneira de rezar pagã, mas é um querer bem. E querer bem a outro é uma oração.

Paolo Rodari
In L’Osservatore Romano
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: Boris Stroujko/Bigstock.com
Publicado em 11.03.2023