Morte e fome severa em Cabo Delgado, no norte de Moçambique

Há crianças a serem assassinadas na província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, que é palco de um conflito armado há mais de três anos, diz a organização não-governamental Save the Children. “Elsa”, de 28 anos, viu o filho, “Filipe”, de 12, a ser decapitado enquanto ela e os seus outros três filhos se escondiam depois de um ataque à aldeia onde vivia. “Tentámos fugir para a floresta, mas eles tiraram-me o meu filho mais velho e decapitaram-no. Não podíamos fazer nada porque senão também seríamos mortos”, disse a mulher à organização. A Save the Children referiu que “quase um milhão de pessoas enfrenta fome severa” como resultado directo da onda de deslocados provocada pelo conflito armado na região, incluindo pessoas deslocadas e comunidades anfitriãs.

Os conflitos armados na região de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, provocaram mais de 700 mil deslocados e de duas mil mortes e estão na origem de uma crise humanitária que se vem agravando desde 2017. A irmã Mónica da Rocha, das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima (IRNSF), afirma que Cabo Delgado parece “um cenário de um filme de terror” e alerta para as necessidades das pessoas que se refugiam em Lichinga, a 454 quilómetros.

Mais de 30 organizações da sociedade portuguesa e da Igreja Católica lançaram um apelo ao “Governo Português, à União Europeia e às Nações Unidas” para que mobilizem esforços para enviar “com urgência ajuda humanitária para a região de Cabo Delgado”. O documento conta com a assinatura, entre outros, da Conferência Episcopal Portuguesa, Comissão Nacional Justiça e Paz, Amnistia Internacional, Cáritas Portuguesa e Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, JRS, FEC, Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos e várias congregações religiosas