Igreja quer que beleza, arte, literatura e música estejam mais presentes na catequese

O novo Diretório para a Catequese, apresentado esta quinta-feira no Vaticano, coloca «a via da beleza como uma das “fontes”» da transmissão da fé, num «momento de transição cultural» marcado especialmente pela consolidação dos meios digitais.

«Uma nota de particular valor inovador para a catequese pode ser expressa pela via da beleza sobretudo para permitir conhecer o grande património de arte, literatura e música que cada Igreja local possui», declarou o presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, responsável pelo volume.

O arcebispo italiano D. Rino Fisichella sustentou esta orientação nas palavras do papa Francisco na exortação apostólica “Evangelii gaudium”, sobre o anúncio do Evangelho, para quem «anunciar Cristo significa mostrar que crer n’Ele e segui-lo não é algo apenas verdadeiro e justo, mas também belo, capaz de preencher a vida de um novo esplendor e de uma alegria profunda, mesmo no meio das provações».

«Nesta perspetiva, todas as expressões de verdadeira beleza podem ser reconhecidas como uma vereda que ajuda a encontrar-se com o Senhor Jesus … Torna-se necessário que a formação na “via pulchritudinis” esteja inserida na transmissão da fé», refere o número 167 do documento de Francisco.

O volume, que já tem concluída a tradução em português, é publicado quase quatro décadas após o primeiro Diretório para a Catequese, e praticamente 25 depois do segundo, tendo requerido cerca de cinco anos de trabalho, com a participação de mais de 80 especialistas de vários países.

«A Igreja está diante de um grande desafio que se concentra na nova cultura com a qual se vai encontrando, a cultura digital», acentua D. Fisichella (embora, neste momento, não esteja disponível uma versão digital do Diretório), depois de destacar «o processo de inculturação que caracteriza de modo particular a catequese».

O responsável alerta que é preciso «libertar a catequese de algumas armadilhas que impedem a sua eficácia», surgindo, à cabeça, o «esquema escolar, segundo o qual a catequese de iniciação cristã é vivida no paradigma da escola. A catequista substitui a professora, a sala da escola dá lugar à sala de catequese, o calendário escolar é idêntico ao da catequese».

O segundo erro a evitar «é a mentalidade segundo a qual a catequese é feita em vista da receção de um sacramento. É óbvio que, quando a iniciação tiver terminado, se venha a criar um vazio para a catequese».

O prelado identifica, ainda, um fenómeno conhecido pela maioria dos agentes ligados à catequese, que consiste na «instrumentalização do sacramento por parte da pastoral, pelo que os tempos do sacramento da Confirmação são estabelecidos pela estratégia pastoral de não perder o pequeno rebanho de jovens que ficou na paróquia, e não pelo significado que o sacramento possui em si mesmo na economia da vida cristã».

D. Fisichella lamentou que «durante demasiado tempo a catequese centrou os seus esforços em dar a conhecer os conteúdos da fé e na pedagogia com a qual os devia transmitir, descurando infelizmente o momento mais determinante que é o ato de cada um escolher a fé e dar o seu assentimento».

Por isso, este modelo de catequese «tem o seu ponto de força no encontro que permite que se experimente a presença de Deus na vida de cada um», permitindo «descobrir que a fé é realmente o encontro com uma pessoa, ainda antes de ser uma proposta moral, e que o cristianismo não é uma religião do passado, mas um acontecimento do presente».

Além da atenção prestada ao digital, o Diretório incide sobre a transmissão da fé na família, a crise ecológica e a necessidade do testemunho, além de desenvolver um catecumenato ligado ao matrimónio, entre outros temas.

Estão previstos, nos próximos meses, encontros com Conferências Episcopais de todo o mundo para apresentar os conteúdos do documento.

in Pastoral da Cultura