ENTREVISTA: Tiago Fonseca, o fututo sacerdote, falou ao jornal A Guarda

Entrevista: Tiago Miguel Gomes Fonseca, diácono da Diocese da Guarda que vai ser ordenado sacerdote no dia 30 de Junho

“Este ritmo acelerado em que hoje a sociedade se habituou a viver, deixa facilmente de lado a dimensão da fé que acaba por ficar esquecida”

Tiago Miguel Gomes Fonseca, diácono da Diocese da Guarda que vai ser ordenado sacerdote no dia 30 de Junho, é natural da Paróquia de Santa Maria, Covilhã.

Estudou na Escola Secundária Campos Melo, UBI – Universidade da Beira Interior e UCP-Braga.

Nos tempos livres gosta de ler, viajar, ouvir música e de cinema.

A GUARDA: O que motivou a escolha do lema “Para que todos sejam um”, para a tua ordenação presbiteral?

Tiago Fonseca: Esta é uma frase retirada do capítulo dezassete do Evangelho segundo São João. Trata-se de uma expressão de Jesus no contexto da oração sacerdotal, no seguimento da Última Ceia. Creio que resume de uma forma identitária a missão de cada um de nós enquanto batizados e depois, na realização da nossa vocação pessoal. É um convite e um desafio permanente à comunhão. Na minha opinião, esta é uma dimensão fundamental no ministério do presbítero: viver na comunhão com Jesus Cristo e congregar nesta mesma unidade, todos aqueles que se sentem chamados a dar testemunho dos valores do Evangelho nas suas vidas.

A GUARDA: Quem é o Tiago Fonseca que vai ser ordenado padre na Sé da Guarda, no dia 30 de Junho?

Tiago Fonseca: Um jovem de vinte e sete anos, natural da Paróquia de Santa Maria, na Covilhã que se sente chamado a configurar a sua vida com Jesus Cristo. A vocação ao sacerdócio ministerial não foi desde sempre uma opção. Todavia, no momento de discernir seriamente no futuro e colocar Deus no centro desse questionamento, a ideia de ser padre tornou-se cada vez mais um caminho de realização. Nos últimos tempos, como diácono, esta espectativa tornou-se uma certeza, consciente de que é Deus quem toma sempre a iniciativa. É Ele que chama e que nos atrai.

A GUARDA: Vais celebrar a Missa Nova na Covilhã? (quando, onde, porquê)

Tiago Fonseca: A Missa Nova vai acontecer no dia 7 de julho, pelas 17h00, na Igreja da Santíssima Trindade, na Covilhã. Esta igreja, assim como todas as pessoas que fazem parte da Paróquia de Santa Maria são o berço da minha vocação. Foram elas, tal como a minha família, que me ajudaram a discernir a união de duas vontades, a de Deus e a minha, o que me trouxe até aqui.

O facto de a Missa Nova acontecer nesta igreja, que é espaço de tantas memórias, é para mim também uma forma de agradecimento à comunidade por toda a dedicação, oração e confiança ao longo destes anos.

No domingo seguinte, dia 14 de junho, irei celebrar também Missa Nova nas paróquias do Arciprestado de Seia-Gouveia, onde estou a realizar o meu estágio pastoral. A Eucaristia será na paróquia de Paços da Serra e congregará as comunidades de Aldeias, Mangualde da Serra, Moimenta da Serra, Paços da Serra, Pinhanços, Santa Comba, Santa Marinha, São Martinho e Vinhó.

A GUARDA: Como olhas para o tempo que passaste no Seminário?

Tiago Fonseca: O Seminário foi para mim um tempo muito bom. O estudo da Teologia ajudou-me a olhar a Igreja e o mundo de uma forma muito mais densa e criativa. Do ponto de vista espiritual, isto teve consequências muito positivas, quer na minha relação pessoal com Deus, quer na minha interação com os outros e no sentido da minha pertença à Igreja.

Estudei no Seminário Interdiocesano de São José que funciona em Braga com as dioceses da Guarda, Viseu, Bragança-Miranda e Lamego. Apesar da distância à minha diocese de origem, creio que foi uma oportunidade de contactar com uma realidade distinta e mais ampla, verificando-se uma experiência formativa muito enriquecedora e com a qual cresci bastante.

O percurso de Seminário foi também oportunidade para criar grandes amizades que perduram no tempo.

A GUARDA: Como tem sido a tua colaboração em várias paróquias do arciprestado Seia/Gouveia?

Tiago Fonseca: A presença e colaboração em parte das paróquias do arciprestado de Seia-Gouveia foi, em primeiro lugar, um regresso às origens. Depois dos anos de formação em Braga foi muito bom volver a tempo inteiro à Diocese da Guarda. Fui acolhido pelas comunidades cristãs num clima de alegria, de profunda amizade e fraternidade, desde logo, pelos párocos que me acompanham, o Pe. Rafael Neves e o Pe. José Brito.

O facto de em dezembro do ano passado ter sido ordenado diácono tem permitido uma presença ministerial diferente, como ainda não tinha experimentado. Este tem sido um tempo muito enriquecedor e gratificante, de aprendizagem e contacto mais personalizado com a vida e a fé das pessoas.

A GUARDA: Quais os grandes desafios e dificuldades com que te tens deparado no contacto com as comunidades onde estás inserido?

Tiago Fonseca: A realidade diocesana em que nos encontramos apresenta-nos vários desafios. Primeiramente, a multiplicidade de paróquias confiadas a um padre, implica por um lado, um esforço redobrado para estarmos intrinsecamente presentes na vida das pessoas e, por outro lado, uma exigência maior para respondermos às diversas solicitações de ordem pastoral.

No que diz respeito aos ministérios laicais, embora já tenham uma grande expressão nas nossas comunidades, ainda estão bastante dependentes da figura do presbítero, o que em alguns casos reflete também uma certa retração ao compromisso. Por seu turno, os contextos sociais de alguma instabilidade que vivemos, também se refletem no nosso ambiente eclesial. Esta constatação, materializa-se tantas vezes num certo desencanto ou pessimismo pastoral, que afeta inclusivamente o clero diocesano.

Também é verdade que as dificuldades e desafios são um estímulo a encontrarmos novas formas no anúncio do Evangelho de Jesus, reconhecendo obviamente os sinais dos tempos à luz fé. Acredito que a missão do padre passa por ser um sinal de esperança diante dos desafios e dificuldades do caminho.

A GUARDA: No teu ponto de vista o que é que afasta os jovens da Igreja? 

Tiago Fonseca: Podem existir, porventura, algumas coisas que afastam os jovens da Igreja, ou, na realidade, que simplesmente não os atraiam. Nós temos jovens comprometidos com a Igreja. É verdade que não correspondem às multidões a que estávamos habituados ou que até experienciámos na JMJ, em Lisboa. Este é um sintoma que não é só dos jovens, mas de muitas pessoas que, mesmo sendo crentes, não vivem a dimensão comunitária e cultual da fé.

Vivemos um tempo em que a oferta é grande. Basta olharmos à nossa volta para nos darmos conta da quantidade de eventos, organizações, atividades extracurriculares, hobbies e serviços que os jovens têm hoje à sua disposição. Para isto tem contribuído também a excessiva imersão no mundo virtual, onde tudo parece estar à distância de um click. Este ritmo acelerado em que hoje a sociedade se habituou a viver, deixa facilmente de lado a dimensão da fé que acaba por ficar esquecida.

Acredito também, que alguns jovens se afastam porque a comunidade cristã não depositou neles a confiança necessária para se sentirem elementos vitais e essenciais das paróquias. Neste campo, mais uma vez, acho que é fundamental uma atitude de esperança e acolhimento, sem muitos pré-requisitos e formalidades. A criatividade, os sonhos e a alegria dos jovens é sempre uma brisa refrescante que entra na Igreja.

A GUARDA: O que significa para ti a Diocese da Guarda?

Tiago Fonseca: Para mim a Diocese da Guarda é esta seara onde, no concreto da minha vida, Jesus me convida a ser sinal da unidade e vínculo da comunhão que nos vem de Deus. Não pode existir um padre desenraizado deste corpo místico que é a Igreja. É na Diocese da Guarda que me sinto parte deste corpo e que a partir do dia 30 de junho, passarei a integrar no ministério presbiteral.

in Jornal A Guarda